Você conhece o termo “sororidade”? Será que o está reproduzindo em suas atitudes diárias?
O termo “sororidade” vem sendo muito procurado no Google nos últimos anos e, atualmente, em virtude de uma fala de Manu Gavassi, no programa de televisão “Big Brother Brasil”, exibido pela Globo, ao justificar seu voto no participante Felipe Prior .
Nesse ínterim, questões do reality show à parte, a verdade é que grande parcela da população está descobrindo somente agora o que significa essa palavra, existente há tanto tempo em nossa língua falada, ainda que ausente de inúmeros dicionários.
Afinal, o que significa “sororidade”?
ORIGEM DA PALAVRA “SORORIDADE”
Antes de tudo, a palavra “sororidade” tem origem no termo em latim “soror”, que quer dizer “irmã”. Apresenta-se como oposto de “fraternidade”, o qual é, por sua vez, originário do termo “frater”, que quer dizer “irmão”, termo centrado muito mais no homem – como muitas palavras da língua portuguesa e de vários outros idiomas – do que na mulher.
A partir da expressão em inglês “sisterhood” usada, nos anos 70, por Kate Millet (1934-2017), escritora norte-americana e uma das mais influentes feministas da segunda onda do feminismo, cunhou-se o termo “sororidade”. Por conseguinte, a palavra começou a surgir em outros idiomas, como “sororité” (francês), “sororidad” (espanhol) e “sororidade” (português).
Inclusive, o termo “sorority”, em inglês, é muito usado para definir as irmandades compostas apenas por mulheres, existentes em um cem número de faculdades.
Contudo, o site “efeminista.com” ressaltou que o escritor espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936) teria utilizado, em sua novela “Tia Tulia” (1921), o termo “sororidade”. Na época, ele já estranhava que não existisse, ao lado de “fraternal” e “fraternidade”, as palavras “sororal” e “sororidade”.
Surpreendentemente, ressalte-se que isso há 50 anos antes de a palavra assumir o significado feminista que hoje possui!
MAS ENTÃO, O QUE É “SORORIDADE” AFINAL?
A princípio, “sororidade” significa, nada mais, nada menos, do que “união entre mulheres”.
Decerto, isso é essencial para o movimento feminista, no sentido de estimular o apoio entre mulheres, ensejador das verdadeiras mudanças pela igualdade entre os gêneros em nossa sociedade.
O cerne de toda a questão está na rivalidade histórica – e tida, até mesmo, como natural pelos antropólogos, como é o caso dos homens entre si, no quesito força e território – que existe entre as mulheres, ainda perpetrada por nossa sociedade machista.
Embora seja considerada “natural”, essa rivalidade assim se enraizou na sociedade por conta de uma necessidade primitiva que, por razões óbvias, não mais existe. Portanto, o termo “sororidade” vem para selar uma nova fase, em que atualiza-se o comportamento humano, para entendermos que viver em colaboração é muito mais pertinente à sobrevivência da espécie do que viver em estado de competição.
Nesse sentido, o termo “sororidade” defende que juntas somos mais fortes e sempre devemos “dar as mãos” para nossas “irmãs”, quais sejam, outras mulheres, em uma verdadeira rede de ajuda. Isso porque precisamos umas das outras na busca por nossa liberdade e nossos direitos em sociedade, já que é com base em alianças que esses objetivos serão alcançados e os preconceitos, enfraquecidos.
E PARA QUE SERVE NA PRÁTICA?
Seja como for, muitas mulheres passaram ou passarão por algum momento de suas vidas em que serão descredibilizadas, desacreditadas: não serão ouvidas, simplesmente pelo fato de serem mulheres e estarem se posicionando sozinhas.
Com efeito, trazendo a “sororidade” para a prática, cria-se uma rede de apoio feminina, que dá suporte e voz para aquela pessoa, conferindo-lhe força de expressão perante a sociedade.
E isso pode acontecer tanto nos casos mais simples, como uma mulher que quer ter suas idéias debatidas e consideradas dentro de uma empresa, quanto nos mais graves, como uma mulher vítima de assédio ou violência sexual, a qual, com o suporte das demais mulheres – inclusive com denúncias endossando a acusação -, conseguirá ser ouvida pela sociedade.
Ainda que englobado por um universo de luta feminista pela igualdade, a prática da “sororidade” é algo muito mais profundo do que isso, pois traz a ideia de apoio, empatia, se colocar no lugar da outra e, principalmente, não julgar outra mulher, apenas porque ela é diferente, o que torna a interação entre mulheres diversas muito mais harmônica e coesa.
COMO POSSO APLICAR NA MINHA VIDA A PARTIR DE HOJE?
Definitivamente, existem muitas formas de aplicarmos a “sororidade” no nosso cotidiano e mudarmos totalmente nosso comportamento diante de outras mulheres.
Por exemplo, (i) ajudar uma mulher em alguma situação desfavorável, (ii) apoiar uma colega em suas idéias junto à empresa e (iii), até mesmo, consumir mais produtos e serviços feitos por mulheres. Adotar essas condutas já é um início para dar um basta na misoginia que aflige as mulheres nos inúmeros núcleos sociais.
Sob o mesmo ponto de vista, podemos considerar a indústria de televisão e cinema, que é um meio muito machista e excludente para a mulher.
Exatamente por isso, tem recebido inúmeras manifestações de mulheres que conseguem ter voz para expressar seu descontentamento perante a sociedade, como Natalie Portman, que entrou no “Red Carpet” vestindo um casaco em que estavam escritos os nomes de diretoras que não concorreram nas categorias principais da premiação.
Definitivamente, são esses pequenos gestos de apoio que fazem diferença no sentido de fomentar mudanças na sociedade.
DICAS PARA O DIA-A-DIA
Inegavelmente, muitas vezes, fica difícil de saber como concretizar o termo em atitudes, trouxemos dez dicas, originárias do livro “Vamos Juntas? – O guia de sororidade para todas ”, escrito pela jornalista Babi Souza:
1. Não enxergue as mulheres à sua volta como rivais só por serem mulheres.
2. Não use critérios diferentes para julgar homens e mulheres.
3. Quando uma menina sofrer algum tipo de assédio ou violência sexual, nunca ache que a culpa foi dela.
4. Não estimule os sentimentos de inveja ou rivalidade entre as mulheres à sua volta.
5. Se sua amiga for traída pelo namorado, não coloque culpa na outra garota envolvida.
6. Quando uma desconhecida precisar de ajuda, coloque-se à disposição.
7. Não incite qualquer tipo de competição entre suas amigas.
8. Tente não criticar abertamente as mulheres à sua volta.
9. Não responsabilize suas amigas pelos filhos ou pela limpeza da casa.
10. Na próxima vez em que estiver em uma situação de risco na rua, observe: Do seu lado pode haver outra mulher passando pela mesma insegurança. Que tal irem juntas?
Por último, agora que vocês sabem o que é sororidade, que tal colocarem em prática atitudes de união, solidariedade, companheirismo e empatia entre mulheres? #união
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Post escrito por: Carolina Morena